Janela da Favela
10/08/2015 13:41
“Abre a janela, você vai ver a beleza que tem por dentro dela”. Esse trecho da música do grupo “Ponto de Equilíbrio” relata o pensamento do “tour turístico” que se tornou comum nas comunidades. Diversas pessoas visitam esse ambiente para conhecer novas culturas, costumes diferentes e o cotidiano do local. Mas vale lembrar que esse também é um passeio pela pobreza, pela desigualdade e segregação. Tudo isso conseqüência da má distribuição de renda, especulação imobiliária e falta de planejamento urbano.
A verdade é que esse turismo é uma jogada de marketing que transforma a favela em um puro entretenimento e abre para o outro uma janela que por fora é coberta por um quadro que esconde a triste realidade e torna os moradores personagens de uma exposição da vida real. É um “safári humano” em que observa-se as pessoas em seu “habitat natural”, seguindo um estilo Globo Repórter: “Quem são os favelados?”, “Onde vivem?”, “O que fazem?”.
No Brasil, há uma lei clara que afirma que todos os cidadãos têm igualdade perante a instituição. Seguindo essa lógica, por que é abominável os moradores dos grandes condomínios da zona sul e turistas abrirem a janela do seu mundo para que os pobres conheçam a cultura, os costumes e a rotina desse povo? Sei que é algo fora de cogitação, e não estou ficando louca, reconheço os problemas que isso pode causar, mas venho criticar essa forma de olhar para o desfavorecido como um ser manipulável, além da transformação desse passeio em um “espetáculo da pobreza”. O fato é que quem visita uma favela não consegue perceber como é viver em um lugar em que os serviços de transporte, saneamento, correios não chegam e acabam vivendo uma falsa experiência.
É possível aprender muito sobre locais pobres. Abrindo a janela desse ambiente, podemos ver o quanto o mundo em que vivemos é injusto e presenciar a capacidade de adaptação do ser humano, a criatividade aplicada para vencer as adversidades e sobre o quanto a felicidade está nas coisas simples. Encarar a realidade pode oferecer ao observador uma experiência no sentido de aprender a respeitar e a lutar pela melhoria de vida dessas populações, desmistificando o senso comum que responsabiliza os próprios moradores pelas condições de falta de educação, emprego a que estão submetidos.
Jessica Santos